Fotos: Clari Ribeiro e Lorran Dias
Texto e edição: Amanda Seraphico
Há uma década, surgia às margens do abismo aberto pelas manifestações de 2013 um coletivo audiovisual. Formada por Amanda Seraphico, Clari Ribeiro e Lorran Dias, a Anarca Filmes nasceu do desejo de filmar o que escapa e transborda: gestos imperfeitos, corpos insurgentes, afetos transgressores, paisagens em ruína – adotando o erro como linguagem e cultivando uma ética e estética da fabulação e do excesso. A Anarca emergiu das festas do Rio e do Recife, onde improvisos e registros da cena cultural criavam espaços de encontro e experimentação. O coletivo criou seus próprios modos de produção e exibição, atrelando o cinema a uma cultura viva, coletiva e dissidente. Seus primeiros filmes e vídeos tensionam os limites do cinema com as linguagens das artes visuais e da internet, rejeitando – e sendo rejeitados por – a legitimação eurocêntrica do “bom gosto”, afirmando formas mais sujas, quentes e múltiplas de pensar, sentir e filmar.
Antologia do delírio reúne pela primeira vez uma amostra significativa da trajetória da Anarca Filmes – não como celebração institucional, mas como retorno ritual: olhar para trás como quem convoca o futuro. Em diálogo com obras de artistas contemporâneos, referências cinematográficas e as presenças de Helena Ignez e Sócrates Alexandre, o programa apresenta uma coletânea de diversos formatos que não obedece à linearidade nem se restringe à filmografia do coletivo. O delírio, aqui, é método e modo de estar no mundo – uma reinvenção do real pela imaginação e pelo desejo, experiência comum às existências LGBTQIAPN+. Filmando com o risco e não com o controle, sua poética e pesquisa expressam um interesse sobre a convivência das diferenças, em um Brasil em disputa pela homogeneização. Esta mostra é um convite ao reencontro com a magia e com a crença de que um gesto, ainda que pequeno, pode estre
A mostra Antologia do delírio: 10 anos de Anarca Filmes está em cartaz no cinema do IMS Paulista em julho.